Nietzsche dividiu as
forma de pensar do ser humano em pelo menos dois ramos.
Uma é da pessoa que
precisa de um guia. É o “escravo”. Ela está determinada a ser
obediente sempre e a cumprir tudo aquilo que lhe for mandado. Todas
as convenções da sociedade também funcionam para este tipo de
pessoa como se fossem verdadeiras ordens. Para esses casos não são
necessários nem exemplos. A maioria das pessoas tem um pouco disso
em maior ou menor grau.
Do outro lado aparece
a forma de pensar do patrão. O mundo gira ao seu redor. Todos lhe
são devedores. As regras são feitas para ele e escolhe sempre
aquelas que vai obedecer. A humanidade nas outras pessoas não
existe. O importante são as metas.
É o tipo mais fácil
de exemplificar: a grande maioria de patrões e empresários que
tripudiam de seus empregados. Em seus carros, geralmente os maiores,
não podem fazer uma cortesia sequer. Não se preocupam em respeitar
normas básicas de trânsito a não ser por medo da perda financeira
com a multa. Os outros seres humanos estão a seu dispor para obterem
o melhor de tudo. O fato de terem que cumprimentar alguém já lhes
causa asco ou somente é feito quando há interesse envolvido.
Costumam perder muitas oportunidades de fazerem amigos bons ou
grandes negócios por serem altamente “seletivos”.
O interessante dessa
questão é que, apesar de tudo, não há um lado certo para
escolher. Há apenas a maneira certa e o momento de usar cada forma
de pensar. Como disse Aristóteles, “a virtude está no meio”,
cabe usar o bom senso. Um bom crivo a ser utilizado na escolha dos
posicionamentos é o respeito à humanidade das pessoas. Ou pelo
menos ao seu bem estar.
O respeito absoluto às
regras, às convenções e mesmo às leis já causou muitas tragédias
por aí. Veja o caso do Povo Alemão na Segunda Guerra. Se não foram
as piores vítimas foram, com certeza as primeiras e as últimas do
nazismo. Tudo pela obediência excessiva e a falta de questionamento
do que estava sendo feito com seu próprio povo. Extrema necessidade
de um guia, literalmente, em alemão "Führer”,
e o tiveram. Aos burocratas inveterados e idiotizados pelo poder não
poderia ser dado presente maior que uma devoção dessas. Os
políticos amariam.
Por outro lado, em
nível coletivo, o pensamento de patrão tem suas vantagens.
Empresários altamente condescendentes não conseguem manter os
negócios funcionando. Distribuem vantagens demais. Não negociam as
melhores condições para a empresa e acabam destruindo-a. E junto se
vão os empregos e a estabilidade da própria família de seus
empregados. Neste caso, mesmo que sua dureza resulte em falta de humanidade, ele se torna quase que literalmente, um mero objeto de obtenção das necessidades da sociedade.
Em nível individual
um pouco de coragem para quebrar regras é importante. As leis são
feitas seguindo interesses diversos. Muitas delas não representam a
vontade e nem o estágio de desenvolvimento da sociedade que elegeu
os seus criadores. Ao tentar seguir inquestionavelmente quaisquer
normas, o cidadão vai acabar descobrindo que não lhe sobrará
recursos para realizar devidamente o que quer de sua vida. Mesmo na
vida social algumas normas e convenções devem ser necessariamente
quebradas para que se possa obter algum equilíbrio.
Decididamente, a
virtude não está em pensar definitivamente como patrão ou como
escravo. É necessário encontrar um meio termo aceitável. Deve-se
conjugar um e outro posicionamento, tendo em vista, tanto quanto
possível, o bem estar dos outros seres humanos até em prol de si
mesmo.
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