terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Filosofia de escravo e filosofia de senhor – Questão de bom senso


      Nietzsche dividiu as forma de pensar do ser humano em pelo menos dois ramos.  
      Uma é da pessoa que precisa de um guia. É o “escravo”. Ela está determinada a ser obediente sempre e a cumprir tudo aquilo que lhe for mandado. Todas as convenções da sociedade também funcionam para este tipo de pessoa como se fossem verdadeiras ordens. Para esses casos não são necessários nem exemplos. A maioria das pessoas tem um pouco disso em maior ou menor grau.
      Do outro lado aparece a forma de pensar do patrão. O mundo gira ao seu redor. Todos lhe são devedores. As regras são feitas para ele e escolhe sempre aquelas que vai obedecer. A humanidade nas outras pessoas não existe. O importante são as metas.
      É o tipo mais fácil de exemplificar: a grande maioria de patrões e empresários que tripudiam de seus empregados. Em seus carros, geralmente os maiores, não podem fazer uma cortesia sequer. Não se preocupam em respeitar normas básicas de trânsito a não ser por medo da perda financeira com a multa. Os outros seres humanos estão a seu dispor para obterem o melhor de tudo. O fato de terem que cumprimentar alguém já lhes causa asco ou somente é feito quando há interesse envolvido. Costumam perder muitas oportunidades de fazerem amigos bons ou grandes negócios por serem altamente “seletivos”.
      O interessante dessa questão é que, apesar de tudo, não há um lado certo para escolher. Há apenas a maneira certa e o momento de usar cada forma de pensar. Como disse Aristóteles, “a virtude está no meio”, cabe usar o bom senso. Um bom crivo a ser utilizado na escolha dos posicionamentos é o respeito à humanidade das pessoas. Ou pelo menos ao seu bem estar.
      O respeito absoluto às regras, às convenções e mesmo às leis já causou muitas tragédias por aí. Veja o caso do Povo Alemão na Segunda Guerra. Se não foram as piores vítimas foram, com certeza as primeiras e as últimas do nazismo. Tudo pela obediência excessiva e a falta de questionamento do que estava sendo feito com seu próprio povo. Extrema necessidade de um guia, literalmente, em alemão "Führer”, e o tiveram. Aos burocratas inveterados e idiotizados pelo poder não poderia ser dado presente maior que uma devoção dessas. Os políticos amariam.
       Por outro lado, em nível coletivo, o pensamento de patrão tem suas vantagens. Empresários altamente condescendentes não conseguem manter os negócios funcionando. Distribuem vantagens demais. Não negociam as melhores condições para a empresa e acabam destruindo-a. E junto se vão os empregos e a estabilidade da própria família de seus empregados. Neste caso, mesmo que sua dureza resulte em falta de humanidade, ele se torna quase que literalmente, um mero objeto de obtenção das necessidades da sociedade. 
      Em nível individual um pouco de coragem para quebrar regras é importante. As leis são feitas seguindo interesses diversos. Muitas delas não representam a vontade e nem o estágio de desenvolvimento da sociedade que elegeu os seus criadores. Ao tentar seguir inquestionavelmente quaisquer normas, o cidadão vai acabar descobrindo que não lhe sobrará recursos para realizar devidamente o que quer de sua vida. Mesmo na vida social algumas normas e convenções devem ser necessariamente quebradas para que se possa obter algum equilíbrio.
      Decididamente, a virtude não está em pensar definitivamente como patrão ou como escravo. É necessário encontrar um meio termo aceitável. Deve-se conjugar um e outro posicionamento, tendo em vista, tanto quanto possível, o bem estar dos outros seres humanos até em prol de si mesmo.  

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