quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A pegadinha da pegadinha - um círculo vicioso

    Há um limite para tudo e também deveria haver para as famosas “pegadinhas”. A falta de refinamento intelectual, o mal gosto descarado e a falta de empatia de certa parcela da população não deve ser manipulada pela media de maneira inconsequente. Esse processo tende a tornar o imaginário popular mais ácido e menos  respeitoso com o ser humano do que já é normalmente. Esse refreamento é necessário para se evitar a banalização da violência e a piora das condições culturais do povo.
    A ideia seria fazer humor. A fórmula já é velha conhecida de sucessos internacionais como o decano “Candid Camera”(Câmera docinha, numa tradução muito mal aproximada ) dos Estados Unidos e no  canadense “Just for laugh” (só para rir): Um pouco de armação, uns atores pregando uns pequenos sustos nas pessoas e umas boas risadas como produto final. A fórmula não varia muito e o humor se faz tanto pela supresa das “vítimas” quanto pelas situações surreais que propõem. Neste último caso um exemplo soberbo pode ser encontrado em www.youtube.com.br com as palavras para busca: pink+ elephant+ prank.
    Esses programas geralmente são de fácil intelecção e não necessitam na maior parte das vezes de que se faça a tradução ou dublagem. A linguagem gestual e baseada em imagens e cenários criam fazem uma comunicação fácil e possível de veiculação até mesmo em vôos internacionais e outras situações em que o mais importante seja a pantomima, a brincadeira desinteressada e feliz. Essas atrações geralmente não acrescentam informações à cultura de quem as vê e não possuem conteúdo heurístico, isso é, capacidade de ensinar alguma coisa. Por outro lado, também não pecam por disseminar maus sentimentos ou mesmo regurgitá-los e pulverizá-los sobre a massa que tem acesso a tais programas.
    Infelizmente, devido a um complexo formado por  imundícies culturais que atacam a cultura brasileira, o ocorrido aqui é que todos os limites são quebrados.  O medo e o desespero são explorados ao máximo nas cenas forjadas. O objetivo é o criar um humor negro e infeliz. Situações como se molhar de lama uma pessoa que supostamente estaria indo trabalhar são normais. A inconsequência, mesmo que simulada é premiada com as risadas e o ibope garantido pela grande massa. Institucionaliza-se o escárnio máximo por qualquer sentimento altruísta, isso é de respeito à pessoa da pressuposta vítima.
    É preciso lembrar que mesmo que se trate de uma falsa vítima, ainda assim há uma imagem humana sendo atacada. Tal ataque, ao invés de ser combatido por uma inexistente bondade da turba é até incentivado pela aceitação indiscriminada do suposto mal provocado a um ser humano. A certeza de que se trata de uma brincadeira sem maiores consequências não redime, não elide a maldade que permeia os sentimentos de quem saboreia esse tipo de entretenimento.  
    Implicitamente, o próprio telespectador já sabe que se trata de situação falsa. Apesar disso, o escárnio com o sofrimento e o desespero com o outro não deixa de ser verdadeiro. As supostas vítimas realmente parecem agredidas e totalmente envolvidas pelas situações absurdas a que são submetidas. A população, todavia, apenas se conforma com a “possibilidade” de que a cena possa ser real sem que haja um questionamento maior sobre ser verdade ou não o que está acontecendo.
    O que impera é o lucro obtido e a manipulação consentida da população pela media. A audiência aproveita e se diverte com a baixaria. Os patrocinadores, quase sempre fornecedores de produtos de qualidade duvidosa, se regozijam com a efetividade dos gastos feitos em publicidade. E o círculo vicioso da falta de compromisso com algum censo de melhoria das condições culturais da população vai se eternizando.
    O problema maior é que se vai convivendo, aceitando e rindo do sofrimento do outro e banalizando a violência. Trata-se de um verdadeiro resquício dos jogos da Roma antiga onde se jogavam os cristão aos leões ou onde os gladiadores se esfalfavam. A consequência lógica é que a violência verdadeira, a do tráfico, dos assaltos e dos noticiários policiais também passa a ser vista de maneira natural e passa a não invocar uma postura de repúdio importante para garantia da própria sobrevivência da espécie.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Deixe as pessoas serem, mas fique de olho...

O melhor é deixar as pessoas serem o que quiserem e observá-las. As manifestações boas ou ruins de comportamento daqueles que estão próximos são muito importantes para que se possa perceber ou pelo menos imaginar o que esperar delas. Manifestações negativas como as agressões, mesmo que verbais, ou o desprezo pelas pessoas humildes são um bom sinal de que se deve buscar o afastamento. Por outro lado a humildade ou a pena de si mesmo ou ainda a falta de objetividade devem ser igualmente observadas e seguidas com zelo pois também podem guardar surpresas desagradáveis.
    O tempo todo, perceba-se ou não, as pessoas trocam mensagens não verbais entre si. É o que está escrito no livro O Corpo Fala e é o que se vai percebendo ao longo da vida. É importante então tentar desvendar esses códigos de mensagens não verbais e combiná-las com o que se ouve e vê das pessoas para se precaver de situações desagradáveis.
    Exemplo é o caso em que as pessoas avançam na idade e não modificam certos comportamentos e até pioram. O alto nível de exigência com os outros, o exagero até o nível da imbecilidade no politicamente correto ou a pura rabugice, com reclamações o tempo todo, tendem muito a piorar caso o cidadão não seja capaz de fazer uma boa autocrítica. Então é melhor se precaver e tentar detectar os sintomas quanto mais cedo possível. Quanto mais cedo se fizer isso, menor a possibilidade de se ter aprofundado os níveis de compromisso e melhores são as perspectivas de conseguir um necessário afastamento daquele indivíduo. 
    Também é importante fazer uma análise do custo benefício de estar perto daquela pessoa. Principalmente nas relações profissionais um defeito pode ser superado por uma qualidade importante. Então aquela a propensão a ser desagradável pode ser superada pelos resultados positivos alcançados.
    Ana Beatriz Barbosa Silva ensina em “Mentes Perigosas” que atitudes como não dar pela existência dos porteiros, faxineiros e outros auxiliares do dia a dia não é um bom sinal sobre a saúde mental da pessoa. Se um fato tão pacífico quanto a incapacidade de dar um bom dia já é indício da possibilidade de um comportamento criminoso, pior ainda será uma agressão propriamente dita, verbal, ou pior ainda, tendendo às vias de fato. Neste caso os sinais, ou apenas um sinal muito marcante, são claros de que a pessoa deve ser evitada. Na impossibilidade do afastamento imediato o seu comportamento deve ser observado constantemente. O objetivo é  identificar um risco qualquer de progressão na incapacidade de se relacionar pacificamente com as pessoas. 
    Há outros casos, porém, de pessoas que gostam de se humilhar, de se rebaixar constantemente e de serem iguais a todo mundo em acessos de altruísmo. Há também pessoas que sentem muita pena de si próprio e reclamam o tempo todo das dificuldades que ela mesma procurou. Isto pode ser um sinal ruim a respeito da pessoa pois pode indicar que a sua “carga” deverá ser dividida em algum momento com alguém. Isso pode acontecer até com um simples desabafo rebugento numa rede social ou numa expressão suave e contaminadora de tristeza com que você a encontra em certos dias.
    Nem os bichos têm pena de si mesmos como disse o poeta americano D. H. Lawrence: “I never saw a wild thing sorry for itself. A small bird will drop frozen dead from a bough without ever having felt sorry for itself. “ –: “Eu nunca vi uma coisa selvagem com pena de si mesmo. Um pequeno pássaro cairá congelado e morto de um galho sem nunca ter sentido pena de si mesmo”. 
    Renato Russo escreveu em Teatro dos Vampiros: “Comparamos nossas vidas... E mesmo assim não tenho pena de ninguém...”. Um dos motivos pelos quais ele pode ter escrito isto é, por exemplo, para afirmar que as pessoas são responsáveis por si mesmas e que seria muita pretensão de qualquer outro achar que pode resolver, mesmo que parcialmente, os problemas de outro.
    Essas considerações sobre autopiedade, baixa auto-estima mostram que essas posturas devem ser sinais de que a pessoa deve ser evitada. Mais cedo ou mais tarde ela tentará dividir o fardo dela com alguém ou cobrar um preço pelo excesso de auto-imolação. Existe ainda o constante aborrecimento com a postura chorosa da pessoa que age desse modo.
    Outro porém sobre esses comportamentos é a falta de objetividade. Ao perder tempo ao ter pena de si mesma a pessoa demonstra que não tem compromisso total com os resultados. Quem mantém o foco constante em um determinado objetivo não perde tempo com lamúrias que não vão levar a nada.
    Claro que para se buscar a justiça é importante lembrar da frase de Freud, citada ainda no livro O Corpo Fala: “Às vezes um charuto é só um charuto”. Nem tudo que acontece a uma pessoa, ou um de seus atos isoladamente, ou uma palavra dita num contexto em que não se sabe o que lhe vai por dentro deve ser usado para formar uma opinião definitiva a respeito dela. Os sentimentos em geral são muito complexos, a diversidade de coisas que podem estar acontecendo na vida de uma pessoa e que não são de conhecimento de um espectador, por mais próximo que seja, não permitem que se forme posicionamentos a partir de uma observação ou outra.
    O que cabe, sim, é procurar consistência nos comportamentos negativos. Estabelece-se uma ideia de tempo ao final do qual já se pensa que será possível firmar posição sobre tais fatos. Deve-se ponderar então se vale a pena continuar os contatos com o indivíduo em questão. Em seguida assume-se a responsabilidade pelas consequências futuras de manter o relacionamento. Isso é um bom exemplo do que vem a ser maturidade.